História do Flamenco

Encarnación López Júlvez.
La Argentinita.
Buenos Aires 1897- Nueva York, 1945.
Bailaora, bailarina cantante e atriz.

 Vários estudiosos pesquisam a etimologia da palavra Flamenco, aplicada aos Bailes e Cantes de Andaluzia. As conclusões são variadas, sendo a palavra relacionada com "Flamengos", povo cigano que chegou à Espanha originários da região de Flandres. Outra origem está no árabe "felag mengu" que significa camponeses nômades (considerada a opção mais provável). Outros atestam que as próprias características de cante ardente e flamejante é que originaram a palavra.

O Flamenco é uma mistura de culturas, raças, cores, religiões, classes e costumes, com um forte apelo emocional que relata a condição humana de viver dos povos que o formaram.

As primeiras referências que se tem do Flamenco, mesmo que incertas, datam de cerca de 1760. O Flamenco nasceu na Andaluzia, Sul da Espanha, em locais como Sevilha, Jerez de La Frontera e Cádiz.

Entre os vários povos que contribuíram para a formação da cultura e arte flamenca destacam-se:


EL PUEBLO ANDALUZ - os íberos que se localizavam na parte Sul da Espanha, também conhecidos como "El Pueblo Tartésico" que estabeleceram-se no vale "Del Guadalquivir", tantos anos ou mais que os descendentes das dinastias egípcias às margens do Nilo. Era um povo muito ligado às coisas espirituais, inexplicáveis, magias e fantasias.

LOS ÁRABES - dois povos invadiram a Espanha, cerca do século VII. Ligados pela religião Mahometana, um desses povos eram procedentes da Ásia, região de Damasco e o outro eram os Bérberes, ou Mouros, provenientes do norte da África. Esses povos fundiram seus costumes e seus elementos culturais, música e coreografia principalmente, cuja descendência temperamental revela a união sanguínea Andaluzo-Moura. Como influência direta pode-se citar o Cante Flamenco, cujas características assemelham-se muito às orações mahometanas.

LOS GITANOS - a palavra gitano, cigano, provém do espanhol antigo egiptano, egípcio. As primeiras migrações que se têm indício são no ano de 1447, na época do reinado de Aragón Alfonso V. Aproximadamente nesta data, uma importante tribo gitana entrou na Espanha por Barcelona, espalhando-se por toda península ibérica. A Espanha foi uma das primeiras nações a ditar disposições coercitivas contra os povos ciganos, sendo que a primeira disposição legal foi ditada pelos reis católicos em Medina del Campo, no ano de 1499. Em 1528, novas disposições foram ditadas contra eles, referindo-se ao estilo de vida errante que levavam porque não tinham ofício para o próprio sustento, viviam de esmolas e de venda de objetos de metal, "enganavam" as pessoas com o uso da magia, além do contabando e furto. Como condenação à vadiagem, eram açoitados, presos, escravizados e presos. Essa perseguição continuou até 1783, quando Carlos III lhes concedeu os mesmos privilégios dos demais habitantes. Ressaltamos que quando os ciganos se estabeleceram na Andaluzia passaram a exercer ofícios como ferreiros e comerciantes de roupas e utensílios.

O Flamenco é essa mistura de raças e culturas, e não somente uma arte cigana como muitos pensam. Nas suas influências também encontra-se o povo judeu e o indiano. Como bem define o grande poeta e escritor Garcia Lorca, o Flamenco é uma das maiores invenções do povo espanhol.

Surgiram então, os primeiros cafés cantantes na Espanha, entre 1847 e 1920, segundo o flamencólogo José Blas Veja, dentre os quais os mais famosos foram: Café Alcazar e o Café Villa Rosa, verdadeiros templos do flamenco, no período entre as duas guerras, que marcaram a era de ouro desta arte. Por eles passaram grandes estrelas da época como La Macarrona, La Tanguera, Sevillan Falco (criador da farruca), e muitos outros.

Logo então, o flamenco foi elevado a condição de espetáculo artístico, graças ao empresário Sergey Diaghilev, que impressionado com as possibilidades inesgotáveis, incluiu um quadro flamenco em uma das apresentações do Ballet Russo em Maio de 1921, no Theatre de La Gayté Lyrique, em París.

Sergey quis manter a autenticidade do flamenco e encomendou a Picasso, maquetes e cenários. O sucesso foi tão grande que animou a grande bailaora La Argentina, a fundar em 1923, sua própria companhia, a primeira da história, e foi assessorada por Garcia Lorca e o toureiro Ignácio Megia.

Em 1943, o empresário Sol Hurok, apresentou no Metropolitan de New York, o espetáculo flamenco do famoso Café de Chinitas, com cenários de Salvador Dali e participação de Pilar Lópes e Manolo Vargas.

No campo da música, a primeira orquestração formal foi executada por Manoel de Falla, na obra “El Amor Brujo”, que estreou em Londres em julho de 1919 no Teatro Kar Savina e Leonide Massaine.

Em 1936, “El Amor Brujo” é apresentado na  Ópera de Paris com La Argentina, e logo em seguida com o Royal Ballet do Convent Garden.

Daí então grandes compositores começaram a utilizar os ritmos flamencos como Salvador Bacarisse, Joaquin Turina, Ernesto Halffer, Joaqin Rodrigo, Albeniz, Granados e até compositores dodecafonistas como Robert Gehard.

Grandes contribuições foram dadas através dos filmes de Carlos Saura e Edgar Neville.